Sobre se doer

Liu Gerbasi
1 min readMay 4, 2021

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Sentir a dor de perto e acompanhar a cicatrização como quem cuida de um outro — de si. O fim arde, aceitar que algo lindo se encerrou é um processo que dura dias, semanas. A dor de um fim não vai até domingo e não respeita as segundas-feiras, não atende a demandas externas. Ela está ali, sendo honesta em seu existir e negando argumentos racionais que a façam ir embora. É um bicho que se aloja entre o peito e os olhos, e incomoda apesar de não se mexer muito, ensurdece apesar de não dizer uma única palavra. Essa dor vai ficar ali o tempo que for necessário, está ali para não deixar o corpo mostrar o buraco que se abriu, está ali para que não seja em vão nenhuma vivência que vem com o dado fim. É através dela que se inicia o processo de cura, é através dela que ela se encerra. Quando menos esperamos, eis que nasce um novo dia e nota-se: sobrevivemos.

a dor costura o fim e te prepara para

(a)colher

futuros começos

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